Integração é desafio em novo ambiente de marketing
31 de Março de 2010

Quem quiser se manter competitivo e olhar para os mercados em franco desenvolvimento com a intenção de localizar possibilidades de negócios, deve investir em TI e marketing, de cima para baixo, do conselho para a base da administração das companhias. A união destes dois elementos – um dará suporte ao outro – fará a diferença no universo das corporações globais. A “profecia”, ainda que em tom de recomendação de um consultor que sabe do que fala, é de Regis McKenna.
“As empresas de todo o mundo, hoje, estão conectadas. Um pouco do que acontece nelas está sob o controle delas mesmas, mas muito já não está”. Expert em Marketing no Silicon Valley, região da Califórnia considerada berço da tecnologia nos Estados Unidos, McKenna afirma que a tecnologia e o atendimento ao cliente estão cada vez mais inter-relacionados nesta era da informação, e o importante é que as empresas estabeleçam “elos”, e, assim, consigam controlar mais de perto o que pode lhes afetar, o “day after” que sinaliza as tendências e exigências do mercado.
Com o desenvolvimento acelerado da Tecnologia da Informação em todas as áreas de negócios, são criados constantes novos desafios para os gestores e também para os profissionais de marketing. O consultor diz que um vendedor já não é mais um profissional simplesmente que orienta o consumidor no ato da compra, mas alguém que deve dar suporte na tomada dessa decisão. Para McKenna, graças ao sistema tecnológico atual, “o tempo necessário para adquirir informações, inovar ou tomar decisões é comprimido e essa velocidade no ‘pensar estratégico’ é muito significante para os executivos que pretendem liderar com sucesso suas organizações”.
Responsável pela estratégia de marketing e lançamento de muitos dos produtos que vivem transformando o mundo, entre eles o primeiro microcomputador, McKenna é presidente da empresa que leva o seu nome, Regis McKenna Inc., com escritórios nos EUA, Europa e Japão. Há 30 anos presta consultoria de marketing para organizações globais. Em palestra que realizou recentemente em São Paulo, sob o tema “Marketing de Acesso Total”, mesmo nome do seu livro lançado pela Editora Campus, apresentou, entre outros fatores, a transformação pela qual o conceito de marketing vem passando em função dos avanços da tecnologia. "O sistema de informação nas mãos de pessoas hábeis e conhecedoras pode mudar totalmente o ambiente de vendas", sentencia.
Se a utilização da TI prevê um impacto nos negócios, para isso é necessária muita atenção, pois muitas “companhias têm tentado trabalhar com os modelos operacionais de mais baixo custo. É por isso que países como Índia, China e até o Brasil têm-se desenvolvido bastante e o mundo tem voltado seus olhos para esses países”, sintetiza. McKenna acrescenta que os três países serão concorrentes, pois puderam aprender com as exportações ocorridas nos anos 70 e “reinvestiram com suas próprias economias”.
Outro desafio a ser encarado pelas empresas é a emissão das mensagens para os seus targets. Para ele, as mídias são muitas, mas o que se quer veicular ao consumidor não deve ser universal, e sim individualizado, “customizado” mesmo. “Passamos todos os últimos anos tentando uniformizar uma mensagem e empurrá-la para os telespectadores, para o público, quando, na realidade, o público é que quer ir em busca dessa mensagem segundo o seu próprio interesse”. Com a internet isso está cada vez mais claro. “Qualquer um pode acessar o que quiser”. A única questão levantada por ele próprio é que todo esse mundo de abertura pode ter um preço: “Quem vai pagar essa conta?”, argumenta, em tom de incerteza sobre o futuro.
Manager – Países que possuem uma demanda social forte estão em condições de competir de acordo com essas tendências que o senhor apresentou?
Regis McKenna – Essa pergunta é complexa, mas vou tentar responder de forma bastante espontânea. As empresas de todo o mundo, não só do Brasil, precisam passar neste momento por um ajuste. Existe aquela “nuvem” dos altos e baixos. Houve, nos anos 90, um tempo de “vacas gordas” e o comércio aumentou muito, não só nos países desenvolvidos, mas nos do terceiro mundo também. Agora, porém, aconteceu a época das “vacas magras”, que na minha opinião vai durar ainda os próximos 10 anos. As companhias têm tentado trabalhar com os modelos operacionais de mais baixo custo. É por isso que países como Índia, China e até o Brasil têm-se desenvolvido bastante, o mundo tem voltado seus olhos para esses países. E acho que os desafios são diferentes para diferentes países. Os desafios para os EUA são totalmente diferentes dos desafios para um país como o Brasil, por exemplo. Embora o Brasil possa produzir mercadorias a baixo custo, essa é uma tendência que vai permanecer no curto prazo. Quando nós voltamos no tempo, pensamos e constatamos que os países desenvolvidos começaram o exportar nos anos 50, nos anos 70, para países como China, Índia, países do Oriente. Esses países absorveram todas essas exportações, mas aprenderam com elas, absorveram esse conhecimento e reinvestiram com suas próprias economias. Investiram nessa pesquisa e desenvolvimento para não só ter um país de mão-de-obra barata, de ser um país de produção de baixo custo, mas também para serem países que fabricassem algo único, que fosse só deles, para gerar valor. As empresas de todo o mundo, hoje, estão conectadas. Um pouco do que acontece nelas está sob o controle delas mesmas, mas muito já não está. O importante é que essas empresas possam estabelecer elos, para que possam controlar mais o que acontece no mundo que lhes pode afetar.
Manager – O senhor falou muito em sua palestra sobre o marketing: marketing interativo e marketing de acesso total. Como vai ficar o vendedor nesse novo contexto de marketing? Ele vai desaparecer?
McKenna – Eu acho que existem várias tendências no varejo no momento. O que se nota hoje em dia é que o vendedor está-se tornando um especialista. Um especialista num produto ou até em uma categoria de produtos. Se nós vamos a uma loja de departamentos, hoje, nós vemos no setor de cosméticos, por exemplo, aquela vendedora que não é apenas uma vendedora, mas quase uma consultora de beleza. Eu acho que atualmente o vendedor tem que ser mais conhecedor do que faz. Não é mais aquela figura que diz qual é o preço do produto e tenta empurrar uma venda. Hoje, ele se tornou um especialista. O que acontece é que em muitos desses ambientes de vendas os vendedores não conhecem bem o produto. Agora, o sistema de informação nas mãos de pessoas hábeis e conhecedoras pode mudar totalmente o ambiente de vendas. O vendedor pode se tornar um auxiliar, aquela pessoa que através da informação, da sua disposição, pode guiar o cliente para outros produtos, para outras possibilidades. Ocorre que essa mudança é lenta. As margens de lucro são muito importantes hoje em dia. Então, é importante que as empresas pensem em novas formas de interface, que sejam mais humanas e mais inteligentes. Na minha palestra, citei um exemplo da interface com a máquina de fast-food, que as pessoas gostam de usar, pois além da praticidade também é uma forma de entretenimento.
Manager – Isso não vai, de certa forma, uniformizar o discurso dos consultores de marketing?
McKenna – Bem, você me perguntou sobre a possibilidade de um discurso uniforme. Eu devo começar dizendo que não sou otimista em relação à existência de uma uniformidade no discurso. Um dos efeitos que nós temos visto é uma diversificação cada vez maior. Por exemplo, no Vale do Silício, existe um jornal chamado “San Jose Mercury News”, e ele é publicado em três idiomas: espanhol, vietnamita e inglês. Isso só é possibilitado pela tecnologia da informação. O que nós vimos é que a rede, hoje, possibilita que vários aspectos comuns sejam vinculados, que uma informação semelhante seja vinculada, mas, ao mesmo tempo, os indivíduos – cada um de nós – somos únicos. E somos únicos na forma como nós acessamos essa informação que está lá nessa rede. Então, o que vejo para o futuro é cada vez mais diversidade, não uniformidade. Mais segmentação. No mundo de fusões e aquisições, por que essas fusões e aquisições acontecem com tanta freqüência? Porque muitas empresas acostumadas a uma única forma de mídia estão buscando outras formas de mídia para fazer o seu marketing, para, justamente, promover a diversificação. Se nós pensarmos, em 1975 os três principais canais de televisão nos EUA eram a ABC, NBC e CBS. O que nós vimos é que essas redes têm cada vez menos audiência. E o que tem aumentado? A tv a cabo, pois ela é muito mais personalizada. Hoje em dia, se pararmos para pensar, as empresas têm que gastar muito para poder veicular a sua mensagem para o grande público. Custa muito caro e existem muitas mídias à disposição das empresas. Só que os consumidores escolhem o que querem, e é isso exatamente o que querem: poder escolher. É o que chamamos de alta responsabilidade. Você fornece a notícia, mas cada indivíduo vai acessar a informação da sua própria óptica, da sua forma escolhida, segundo o seu próprio interesse. Esse também é um desafio para os próximos 20 anos, pois passamos todos os últimos anos tentando uniformizar uma mensagem e empurrá-la para os telespectadores, para o público, quando, na realidade, o público é que quer ir a busca dessa mensagem segundo o seu próprio interesse. Percebo muita necessidade de informação individual, mas, na verdade, pouco é individualizada. Como eu disse, vejo cada vez mais um futuro de diversidade e não de uniformidade.
Manager – O senhor acredita que o marketing pode ser um aliado no sentido de respaldar a harmonia nos processos de fusão e aquisição?
McKenna – Em geral, as pessoas pensam em fusão e aquisição como uma operação que acontece para se atingir uma economia de escala. A gente pensa no exemplo da HP, que adquiriu uma empresa e, depois, a Compaq. Só aí já são três empresas e não estamos falando de empresas já estabelecidas. Estamos falando de empresas empreendedoras que se uniram cada qual com a sua cultura e cada uma com uma cultura diferente. Pelo que eu entendo, ainda não estão totalmente integradas. Na realidade, raramente se tem um sucesso completo nessa integração, pois as culturas individuais das empresas não são consideradas antes da fusão.
Manager – O avanço de gestão na área específica de TI é uma tendência que vai diferenciar as empresas?
McKenna – Das grandes tendências, uma é a que você mencionou: a terceirização, algo que já está conosco há bastante tempo e vai continuar. Uma outra tendência que vejo na área de gestão é que a sala do presidente da empresa vai se tornar basicamente um escritório da presidência. Não é mais aquela sala onde existe uma única pessoa tomando decisões, mas se torna um escritório onde um grupo de pessoas administra a empresa.
Uma outra tendência é a de fusão da tecnologia da informação. TI está chegando nos níveis de conselhos de empresas e daí para baixo em todos os níveis da empresa. TI vai será cada vez mais eficiente e tem o objetivo de tornar a empresa mais eficiente, reduzir custos e melhorar a educação dos funcionários da empresa.
Ainda uma outra tendência seria a adequação financeira das empresas às novas exigências. Toda a parte de informações financeiras, informações sobre ações, etc. Nós vimos o problema da Andersen Consulting e de outras empresas que desabaram por não apresentar essa clareza, essa transparência. Essa tendência da abertura tem acontecido não só nos EUA, mas globalmente. Nós vimos o procurador do Estado de Nova York exigindo que as empresas abram suas portas e janelas, dizendo como remuneram seus funcionários, como os recompensam, etc. Enfim, abram essas informações.
O que nós vemos é que houve os altos e baixos dos anos 90, houve a “bolha da internet”, etc. Durante essa “bolha”, eram tantas informações que as pessoas não viam o que estava logo abaixo da superfície. Com o “estouro da bolha”, essas informações passaram a adquirir uma importância muito grande, o que nós leva à última tendência – que eu gostaria de mencionar – que é de abertura.
Hoje em dia nós vemos o sucesso do sistema operacional Lynux. Por quê? Porque ele é aberto. Vemos Wall Street, vemos o mercado financeiro exigindo cada vez mais acesso às informações. Um novo debate é o quão aberto devem ser os bancos de dados. Existe um banco de dados que é bastante aberto, o Genoma. Qualquer um pode acessar. Mencionei também a questão da biomassa. O que nós vemos são os funcionários exigindo abertura e os acionistas também. Em última instância, os clientes também vão exigir essa abertura. É o que chamo de Open Trend, a tendência da abertura. As pessoas relutam muito em abrir essas informações, pois até aqui o mundo era sempre controlado. As pessoas controlavam o mundo por intermédio de padrões. No mundo antigo as informações eram controladas por meio de canais monitorados e no mundo de hoje isso não pode mais acontecer, pois existe a internet e nela não existem regras. Qualquer um pode acessar o que quiser. As pessoas utilizam a internet para comparar preço de carro, preço de ação, etc. Está tudo lá, é só acessar. Foi feita a pergunta se comunidades abertas, como o Orkut, poderiam mudar, melhorar, promover troca de experiências, etc. A resposta é que tudo o que for aberto será atraente.
A Microsoft gosta de dizer que tem um código aberto. Mas por que o Lynux cresceu tão rápido? Porque é um código realmente aberto. Você vai lá, se cadastra e a partir daí você muda, adiciona, faz o que quiser ali dentro. A verdade é que esse mundo da abertura nos leva a uma questão: quem é que vai pagar essa conta? Alguém vai ter que pagar para continuar reinvestindo. A partir do momento em que fica aberto, não se pode necessariamente cobrar. De alguma forma temos que saber como monetizar todos esses códigos abertos, todas essas fontes abertas de conhecimento. Caso contrário, não haverá retorno e voltaremos à cultura de subsistência. Cada um vai criar sua vaquinha, plantar seus legumes, pois voltaremos a essa cultura.
“As empresas de todo o mundo, hoje, estão conectadas. Um pouco do que acontece nelas está sob o controle delas mesmas, mas muito já não está”. Expert em Marketing no Silicon Valley, região da Califórnia considerada berço da tecnologia nos Estados Unidos, McKenna afirma que a tecnologia e o atendimento ao cliente estão cada vez mais inter-relacionados nesta era da informação, e o importante é que as empresas estabeleçam “elos”, e, assim, consigam controlar mais de perto o que pode lhes afetar, o “day after” que sinaliza as tendências e exigências do mercado.
Com o desenvolvimento acelerado da Tecnologia da Informação em todas as áreas de negócios, são criados constantes novos desafios para os gestores e também para os profissionais de marketing. O consultor diz que um vendedor já não é mais um profissional simplesmente que orienta o consumidor no ato da compra, mas alguém que deve dar suporte na tomada dessa decisão. Para McKenna, graças ao sistema tecnológico atual, “o tempo necessário para adquirir informações, inovar ou tomar decisões é comprimido e essa velocidade no ‘pensar estratégico’ é muito significante para os executivos que pretendem liderar com sucesso suas organizações”.
Responsável pela estratégia de marketing e lançamento de muitos dos produtos que vivem transformando o mundo, entre eles o primeiro microcomputador, McKenna é presidente da empresa que leva o seu nome, Regis McKenna Inc., com escritórios nos EUA, Europa e Japão. Há 30 anos presta consultoria de marketing para organizações globais. Em palestra que realizou recentemente em São Paulo, sob o tema “Marketing de Acesso Total”, mesmo nome do seu livro lançado pela Editora Campus, apresentou, entre outros fatores, a transformação pela qual o conceito de marketing vem passando em função dos avanços da tecnologia. "O sistema de informação nas mãos de pessoas hábeis e conhecedoras pode mudar totalmente o ambiente de vendas", sentencia.
Se a utilização da TI prevê um impacto nos negócios, para isso é necessária muita atenção, pois muitas “companhias têm tentado trabalhar com os modelos operacionais de mais baixo custo. É por isso que países como Índia, China e até o Brasil têm-se desenvolvido bastante e o mundo tem voltado seus olhos para esses países”, sintetiza. McKenna acrescenta que os três países serão concorrentes, pois puderam aprender com as exportações ocorridas nos anos 70 e “reinvestiram com suas próprias economias”.
Outro desafio a ser encarado pelas empresas é a emissão das mensagens para os seus targets. Para ele, as mídias são muitas, mas o que se quer veicular ao consumidor não deve ser universal, e sim individualizado, “customizado” mesmo. “Passamos todos os últimos anos tentando uniformizar uma mensagem e empurrá-la para os telespectadores, para o público, quando, na realidade, o público é que quer ir em busca dessa mensagem segundo o seu próprio interesse”. Com a internet isso está cada vez mais claro. “Qualquer um pode acessar o que quiser”. A única questão levantada por ele próprio é que todo esse mundo de abertura pode ter um preço: “Quem vai pagar essa conta?”, argumenta, em tom de incerteza sobre o futuro.
Manager – Países que possuem uma demanda social forte estão em condições de competir de acordo com essas tendências que o senhor apresentou?
Regis McKenna – Essa pergunta é complexa, mas vou tentar responder de forma bastante espontânea. As empresas de todo o mundo, não só do Brasil, precisam passar neste momento por um ajuste. Existe aquela “nuvem” dos altos e baixos. Houve, nos anos 90, um tempo de “vacas gordas” e o comércio aumentou muito, não só nos países desenvolvidos, mas nos do terceiro mundo também. Agora, porém, aconteceu a época das “vacas magras”, que na minha opinião vai durar ainda os próximos 10 anos. As companhias têm tentado trabalhar com os modelos operacionais de mais baixo custo. É por isso que países como Índia, China e até o Brasil têm-se desenvolvido bastante, o mundo tem voltado seus olhos para esses países. E acho que os desafios são diferentes para diferentes países. Os desafios para os EUA são totalmente diferentes dos desafios para um país como o Brasil, por exemplo. Embora o Brasil possa produzir mercadorias a baixo custo, essa é uma tendência que vai permanecer no curto prazo. Quando nós voltamos no tempo, pensamos e constatamos que os países desenvolvidos começaram o exportar nos anos 50, nos anos 70, para países como China, Índia, países do Oriente. Esses países absorveram todas essas exportações, mas aprenderam com elas, absorveram esse conhecimento e reinvestiram com suas próprias economias. Investiram nessa pesquisa e desenvolvimento para não só ter um país de mão-de-obra barata, de ser um país de produção de baixo custo, mas também para serem países que fabricassem algo único, que fosse só deles, para gerar valor. As empresas de todo o mundo, hoje, estão conectadas. Um pouco do que acontece nelas está sob o controle delas mesmas, mas muito já não está. O importante é que essas empresas possam estabelecer elos, para que possam controlar mais o que acontece no mundo que lhes pode afetar.
Manager – O senhor falou muito em sua palestra sobre o marketing: marketing interativo e marketing de acesso total. Como vai ficar o vendedor nesse novo contexto de marketing? Ele vai desaparecer?
McKenna – Eu acho que existem várias tendências no varejo no momento. O que se nota hoje em dia é que o vendedor está-se tornando um especialista. Um especialista num produto ou até em uma categoria de produtos. Se nós vamos a uma loja de departamentos, hoje, nós vemos no setor de cosméticos, por exemplo, aquela vendedora que não é apenas uma vendedora, mas quase uma consultora de beleza. Eu acho que atualmente o vendedor tem que ser mais conhecedor do que faz. Não é mais aquela figura que diz qual é o preço do produto e tenta empurrar uma venda. Hoje, ele se tornou um especialista. O que acontece é que em muitos desses ambientes de vendas os vendedores não conhecem bem o produto. Agora, o sistema de informação nas mãos de pessoas hábeis e conhecedoras pode mudar totalmente o ambiente de vendas. O vendedor pode se tornar um auxiliar, aquela pessoa que através da informação, da sua disposição, pode guiar o cliente para outros produtos, para outras possibilidades. Ocorre que essa mudança é lenta. As margens de lucro são muito importantes hoje em dia. Então, é importante que as empresas pensem em novas formas de interface, que sejam mais humanas e mais inteligentes. Na minha palestra, citei um exemplo da interface com a máquina de fast-food, que as pessoas gostam de usar, pois além da praticidade também é uma forma de entretenimento.
Manager – Isso não vai, de certa forma, uniformizar o discurso dos consultores de marketing?
McKenna – Bem, você me perguntou sobre a possibilidade de um discurso uniforme. Eu devo começar dizendo que não sou otimista em relação à existência de uma uniformidade no discurso. Um dos efeitos que nós temos visto é uma diversificação cada vez maior. Por exemplo, no Vale do Silício, existe um jornal chamado “San Jose Mercury News”, e ele é publicado em três idiomas: espanhol, vietnamita e inglês. Isso só é possibilitado pela tecnologia da informação. O que nós vimos é que a rede, hoje, possibilita que vários aspectos comuns sejam vinculados, que uma informação semelhante seja vinculada, mas, ao mesmo tempo, os indivíduos – cada um de nós – somos únicos. E somos únicos na forma como nós acessamos essa informação que está lá nessa rede. Então, o que vejo para o futuro é cada vez mais diversidade, não uniformidade. Mais segmentação. No mundo de fusões e aquisições, por que essas fusões e aquisições acontecem com tanta freqüência? Porque muitas empresas acostumadas a uma única forma de mídia estão buscando outras formas de mídia para fazer o seu marketing, para, justamente, promover a diversificação. Se nós pensarmos, em 1975 os três principais canais de televisão nos EUA eram a ABC, NBC e CBS. O que nós vimos é que essas redes têm cada vez menos audiência. E o que tem aumentado? A tv a cabo, pois ela é muito mais personalizada. Hoje em dia, se pararmos para pensar, as empresas têm que gastar muito para poder veicular a sua mensagem para o grande público. Custa muito caro e existem muitas mídias à disposição das empresas. Só que os consumidores escolhem o que querem, e é isso exatamente o que querem: poder escolher. É o que chamamos de alta responsabilidade. Você fornece a notícia, mas cada indivíduo vai acessar a informação da sua própria óptica, da sua forma escolhida, segundo o seu próprio interesse. Esse também é um desafio para os próximos 20 anos, pois passamos todos os últimos anos tentando uniformizar uma mensagem e empurrá-la para os telespectadores, para o público, quando, na realidade, o público é que quer ir a busca dessa mensagem segundo o seu próprio interesse. Percebo muita necessidade de informação individual, mas, na verdade, pouco é individualizada. Como eu disse, vejo cada vez mais um futuro de diversidade e não de uniformidade.
Manager – O senhor acredita que o marketing pode ser um aliado no sentido de respaldar a harmonia nos processos de fusão e aquisição?
McKenna – Em geral, as pessoas pensam em fusão e aquisição como uma operação que acontece para se atingir uma economia de escala. A gente pensa no exemplo da HP, que adquiriu uma empresa e, depois, a Compaq. Só aí já são três empresas e não estamos falando de empresas já estabelecidas. Estamos falando de empresas empreendedoras que se uniram cada qual com a sua cultura e cada uma com uma cultura diferente. Pelo que eu entendo, ainda não estão totalmente integradas. Na realidade, raramente se tem um sucesso completo nessa integração, pois as culturas individuais das empresas não são consideradas antes da fusão.
Manager – O avanço de gestão na área específica de TI é uma tendência que vai diferenciar as empresas?
McKenna – Das grandes tendências, uma é a que você mencionou: a terceirização, algo que já está conosco há bastante tempo e vai continuar. Uma outra tendência que vejo na área de gestão é que a sala do presidente da empresa vai se tornar basicamente um escritório da presidência. Não é mais aquela sala onde existe uma única pessoa tomando decisões, mas se torna um escritório onde um grupo de pessoas administra a empresa.
Uma outra tendência é a de fusão da tecnologia da informação. TI está chegando nos níveis de conselhos de empresas e daí para baixo em todos os níveis da empresa. TI vai será cada vez mais eficiente e tem o objetivo de tornar a empresa mais eficiente, reduzir custos e melhorar a educação dos funcionários da empresa.
Ainda uma outra tendência seria a adequação financeira das empresas às novas exigências. Toda a parte de informações financeiras, informações sobre ações, etc. Nós vimos o problema da Andersen Consulting e de outras empresas que desabaram por não apresentar essa clareza, essa transparência. Essa tendência da abertura tem acontecido não só nos EUA, mas globalmente. Nós vimos o procurador do Estado de Nova York exigindo que as empresas abram suas portas e janelas, dizendo como remuneram seus funcionários, como os recompensam, etc. Enfim, abram essas informações.
O que nós vemos é que houve os altos e baixos dos anos 90, houve a “bolha da internet”, etc. Durante essa “bolha”, eram tantas informações que as pessoas não viam o que estava logo abaixo da superfície. Com o “estouro da bolha”, essas informações passaram a adquirir uma importância muito grande, o que nós leva à última tendência – que eu gostaria de mencionar – que é de abertura.
Hoje em dia nós vemos o sucesso do sistema operacional Lynux. Por quê? Porque ele é aberto. Vemos Wall Street, vemos o mercado financeiro exigindo cada vez mais acesso às informações. Um novo debate é o quão aberto devem ser os bancos de dados. Existe um banco de dados que é bastante aberto, o Genoma. Qualquer um pode acessar. Mencionei também a questão da biomassa. O que nós vemos são os funcionários exigindo abertura e os acionistas também. Em última instância, os clientes também vão exigir essa abertura. É o que chamo de Open Trend, a tendência da abertura. As pessoas relutam muito em abrir essas informações, pois até aqui o mundo era sempre controlado. As pessoas controlavam o mundo por intermédio de padrões. No mundo antigo as informações eram controladas por meio de canais monitorados e no mundo de hoje isso não pode mais acontecer, pois existe a internet e nela não existem regras. Qualquer um pode acessar o que quiser. As pessoas utilizam a internet para comparar preço de carro, preço de ação, etc. Está tudo lá, é só acessar. Foi feita a pergunta se comunidades abertas, como o Orkut, poderiam mudar, melhorar, promover troca de experiências, etc. A resposta é que tudo o que for aberto será atraente.
A Microsoft gosta de dizer que tem um código aberto. Mas por que o Lynux cresceu tão rápido? Porque é um código realmente aberto. Você vai lá, se cadastra e a partir daí você muda, adiciona, faz o que quiser ali dentro. A verdade é que esse mundo da abertura nos leva a uma questão: quem é que vai pagar essa conta? Alguém vai ter que pagar para continuar reinvestindo. A partir do momento em que fica aberto, não se pode necessariamente cobrar. De alguma forma temos que saber como monetizar todos esses códigos abertos, todas essas fontes abertas de conhecimento. Caso contrário, não haverá retorno e voltaremos à cultura de subsistência. Cada um vai criar sua vaquinha, plantar seus legumes, pois voltaremos a essa cultura.
Fonte: Manager
Acesse: www.manager.com.br
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